Estamos há mais de um ano vivendo um período emocional desafiador para todos, mas especialmente difícil para mães, que têm dado muitos sinais de que não aguentam mais tanta sobrecarga e que estão muito próximas do limite.
Expostas a jornadas triplas com o trabalho, cuidados da casa e cuidados com os filhos, as mães têm apresentado sintomas graves como: cansaço extremo, esgotamento físico e mental, aumento do estresse, aumento da angústia, aumento da irritabilidade, sintomas ansiosos diversos, entre outros. Esses sintomas, somados aos impactos do distanciamento social, têm agravado a saúde mental da grande maioria das mulheres.
Seja em home office, seja presencialmente, esse cenário custoso ainda está vinculado ao comprometimento com o próprio trabalho. Muitas vezes, o resultado dessa rotina traz a sensação de impotência, o que é muito angustiante e exaustivo emocionalmente. Em outras palavras, se torna muito difícil uma pessoa nestas condições não apresentar sintomas ou quadros de ansiedade ou depressão.
Os excessos causados pela pandemia também estão intimamente relacionados a questões de gênero, particularmente aqueles associados ao volume de trabalho doméstico com o qual as mulheres lidam diariamente. A pesquisa realizada pela ONG Think Olga, pela consultoria Think Eva e pela Brastemp, publicada no jornal Estado de São Paulo, em 1º de maio, identificou que, se fossem remuneradas por suas atividades domésticas, as mulheres seriam responsáveis por um movimento anual de US$ 10,8 trilhões.
Além dessas atividades, as mães se dedicam aos cuidados com os filhos e, muitas vezes, são também as responsáveis por muitos desses cuidados. Com a pandemia, muitas ainda foram convocadas a lidar com o formato on-line das aulas, e com a responsabilidade de apoiar os professores, durante as aulas virtuais. Passado mais de um ano, o que vemos, sem dúvida, é o aumento de quantidade de horas nas atividades das mães, incluindo a adaptação e a adequação ao trabalho virtual e a jornadas que chegam a ultrapassar as horas convencionais.
Para as mães que trabalham na linha de frente do combate ao vírus, todos esses aspectos ainda se somam com o convívio de experiências dolorosas, pois precisam lidar mais frequentemente com perdas e com o luto. O resultado, como já adiantamos, é o esgotamento físico e mental e comportamentos de risco, no que tange o equilíbrio e a saúde emocional dessas mulheres.
Existem ações práticas que podem ajudar?
A avaliação psiquiátrica e/ou psicológica adequada, para a identificação de qual a real situação clínica e emocional existente, é imprescindível para que seja possível intervir de maneira a reduzir o sofrimento e instituir o tratamento compatível, caso seja necessário.
De acordo com Márcia Barone Bartilotti, psicóloga, psicoterapeuta e sócia-fundadora da Falla Saúde Mental, é de extrema importância ampliar a rede de apoio, participando, por exemplo, de grupos de mães. “A troca de ideias, de sentimentos e até mesmo o desabafo das dificuldades podem amenizar esse momento”, explicou.
Luiz Eduardo Siqueira, médico com especialização em psiquiatria, psicoterapeuta e sócio-fundador da Falla Saúde Mental, elenca preceitos que deveriam ser básicos em nossas vidas. “Respeitar carga horária de trabalho de no máximo 8 horas ao dia, ter sono de qualidade de ao menos 6 a 8 horas/noite, praticar atividade física regular 3 a 4 vezes/semana (ao menos caminhada de 40 minutos), dieta adequada, com ingestão de saladas, verduras, frutas, aumentar ingestão hídrica, observar pausas longe do celular e computador para brincar com os filhos e para entretenimento individual são algumas das medidas para atenuar os efeitos nocivos do isolamento e do desgaste emocional”.
Márcia e Luiz Eduardo reforçaram que o momento exige planejamento das atividades do dia, respeitando horas pré-determinadas, momentos de lazer e de cuidados com os filhos. “Conversar com o companheiro sobre a rotina e como ele pode auxiliar a planejar essa rotina, ajuda a perceber o que pode ser melhorado, otimizando, assim, o dia a dia”, explicou Márcia. A divisão de tarefa com o parceiro é, mais do que nunca, uma necessidade que vai garantir o bem-estar das mulheres, refletindo-se na saúde emocional de toda a família.
Por fim, voltando-nos especificamente para a mulher, a Falla entende que é de extrema importância diminuir a cobrança sobre sua performance profissional, seja no trabalho seja nas tarefas domésticas em um período tão atípico e crítico como esse. Um passo essencial no combate ao problema é falar do assunto. Fale com alguém sobre como você está se sentindo. Guardar angústias e sentimentos torna a sobrecarga ainda maior. E, se possível, considere a ajuda de um profissional da saúde mental.
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