Dentre as notícias que mais repercutiram na última semana sobre as Olímpiadas de Tóquio está a de Simone Biles, uma das mais expoentes atletas da ginástica artística, que desistiu de participar de provas finais e priorizar sua saúde mental.
Em um mundo com tantos preconceitos e estigmas que ainda rondam a saúde mental, somado a um ambiente estressante em função de altas cobranças e pressões por desempenho e resultados, Simone Biles proporcionou ao planeta um alerta que vale ouro: a exaustão pode acometer qualquer um de nós, e saber reconhecer, admitir e expressar limites e vulnerabilidades são atitudes fundamentais para a busca de cuidados em prol da saúde física e mental.
Foi exatamente isso que Biles fez e mostrou ao mundo: que, além de atleta, é humana, que a mente faz parte do corpo, que proteger e cuidar da saúde mental não é fraqueza e, sim, uma atitude consciente, um caminho necessário para uma existência saudável e que precisa, sobretudo, ser normalizado e não estigmatizado.
O alerta de Simone Biles também nos convida a jogar mais luz em um assunto que ganha cada dia mais espaço nas organizações, especialmente, após o impacto da pandemia na rotina laboral: a saúde mental dos colaboradores e o preço de uma rotina, muitas vezes, sem limites e sem pausas.
E motivos para isso não faltam: são inúmeros os relatos de sobrecarga, os quais se refletem no significativo aumento dos quadros de ansiedade e depressão. Em relação à Síndrome de Burnout, como é chamado o esgotamento associado ao trabalho, as estatísticas veiculadas pela Folha de São Paulo apontam para um aumento de 21% nos diagnósticos em relação ao período anterior à pandemia.
Por outro lado, sabemos que altos índices de transtornos mentais não foram frutos somente da pandemia. Em nosso país, o adoecimento mental é a terceira maior causa de afastamento do trabalho. Além disso, em muitas organizações, o alto índice do presenteísmo é uma realidade. Mesmo com problemas relacionados à saúde mental, os funcionários continuam indo ao trabalho, preferindo, muitas vezes, evitar falar do assunto com seus colegas ou gestores. Sofrem calados e temem expor suas dificuldades humanas, só buscando ajuda especializada quando já estão, de fato, adoecidos.
Mais uma vez é nítida a importância do alerta e da atitude de Simone Biles e que precisa ecoar também no âmbito organizacional: sobre reconhecer os limites e ter a coragem de parar mesmo quando se está no auge da carreira. E que não há nada de vergonhoso ou ruim nisso. Pelo contrário, é um mérito, pois o que determina o adoecimento mental é a continuidade de um estado de esgotamento desprovido de cuidados adequados, não raras vezes, em função dos estigmas e preconceitos.
A mensagem de Biles que pode ficar para as organizações é esta: convida-nos a criar locais de trabalho onde as pessoas se sintam seguras para falar sobre seus limites, suas vulnerabilidades e sobre sua saúde física ou mental. E que isso possa ser acolhido como oportunidade de promoção e prevenção do bem-estar individual e coletivo, além de construir espaços livres de tabus e colaboradores sem medo de serem estigmatizados ou desligados.
Sem dúvida, essa é a coisa certa a se fazer! Ambientes de trabalho mais saudáveis, seguros e humanos para todos.
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