Dia de Finados é momento de homenagem aqueles que se foram, mas também um momento delicado para muitas pessoas. E refletir sobre a importância do luto nos ajuda a conviver com a ausência de maneira saudável.
É muito provável que a maioria de nós gostaria que nada de ruim acontecesse seja conosco ou com aqueles que amamos. Quem dera fosse possível impedirmos a ocorrência de alguns momentos. Mas não podemos, pois, tudo muda e, às vezes, em frações de segundos. E aquela doce ilusão de que as situações não se transformassem, de que as pessoas não se perdessem uma das outras, de que ausências e dores não fizessem parte de nossas vivências “cai por terra” e dá lugar para uma dura realidade: do quanto somos frágeis e vulneráveis, do quanto os encontros, as oportunidades e tantas idealizações que temos em relação as nossas vidas podem ser fugazes, passageiras ou transitórias.
Em geral, é nesse momento que algumas pessoas procuram ajuda psicológica, muitas vezes, a pedido ou sugestão de amigos, de parentes ou de pessoas do seu ciclo profissional. Perguntam o que está acontecendo com elas, pedem informações práticas e/ou soluções rápidas para “lidar melhor” com suas perdas e seus lutos, trazendo consigo a crença difundida de que “falar sobre o assunto aumenta o sofrimento”.
Talvez seja aqui um bom momento para escrever o que costumo dizer a elas: que não poder falar sobre a dor, assim como, não poder ser escutado, é que aumenta sobremaneira o sofrimento. Em outras palavras, sofrer faz parte da vida e acolher nossas dores ainda é a melhor forma de superá-las.
E isso demanda (mais ou menos) tempo, pois o luto pode ser um processo mais difícil e penoso em algumas circunstâncias, porém, necessário e saudável uma vez que nos permite aceitar a perda, estabelecer novas relações, desfrutar de atividades de lazer, trabalhar produtivamente, ter novos projetos, ou seja, recuperar o interesse pela vida e prosseguir nosso caminho.
Infelizmente, vivemos em um mundo que valoriza consideravelmente o prazer e a felicidade constante. É visível o quanto se tem apressado o chamado “tempo da cura”, ou seja, o tempo do luto para as reconstruções que toda perda requer. O recolhimento, a paciência, a espera, o amadurecimento e a tolerância ao sofrimento, aspectos tão necessários para a elaboração do luto e para a recomposição da vida, se tornaram “anormais” em um mundo que pouco parece compreender e respeitar os momentos de tristeza.
Isso acaba levando muitas pessoas a repudiar ou mascarar suas tristezas. Dores e sofrimentos - plenamente justificados - não raras vezes passam a ser tratados pela via medicamentosa. E isso, obviamente, faz muita diferença, pois a gama de acontecimentos esperados e, portanto, considerados naturais e pertencentes ao contexto, ficam descontextualizados, distorcidos, inibidos, negados e tendem a aparecer por meio de sintomas ou do adoecimento físico e psíquico. A tristeza pode dar lugar à depressão propriamente dita, colocando em risco o sentido da vida e do viver.
Portanto, não hesite em buscar ajuda profissional. O luto não é doença, mas pode ser um período que necessite de maiores cuidados e de acompanhamento psicológico, caso você não se sinta em condições de superá-lo.
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